sábado, 7 de abril de 2012

Frida et moi et ces gens-là, Monsieur



Ces gens-là


Pra começar, há o mais velho.
Ele, que é como um melão,
Que tem um grande nariz,
Que nem sabe mais o próprio nome, meu senhor...
De tanto que bebe,
Ou de tanto que já bebeu...
Que não faz nada com seus dez dedos.
Que nem consegue mais.

Ele, que está completamente cozido,
E que se acha um rei.
Que se embebeda toda noite
Com vinho ruim
E que é encontrado de manhã
Na igreja, cochilando,
Duro como uma ereção,
Pálido como um círio pascal.
E que depois gagueja,
Que tem um olho que divaga.

Devo dizer-lhe meu senhor
Que com aquela gente lá
Não se pensa meu senhor.

Não se pensa...
... Reza-se.

E depois há outro
Com cenouras em seu cabelo,
Que nunca viu um pente,
Que é perverso como uma micose,
Mesmo que doasse sua camisa aos pobres.
Que é casado com a Denise,
Uma garota da cidade.
Enfim, d’outra cidade.

E não é só isso.
Que faz seus pequenos negócios
Com seu chapeuzinho,
Com seu casaquinho,
Com seu carrinho.

Que tenta passar uma boa impressão
Mas não impressiona ninguém.

Não se deve pagar de rico
Quando não se tem dinheiro.

Devo dizer-lhe meu senhor,
Que com aquela gente lá
Não se vive meu senhor.

Não se vive...
... Trapaceia-se.

E depois há os outros.
A mãe, que não diz nada...
Ou, bem, nada de importante,
E vai da noite à manhã,
Com sua bela cara de santa.
E no quadro de madeira
Há o bigode do pai,
Morto em um escorregão.
E que observa seu rebanho
Comer a sopa fria
E fazerem grandes “flchss”,
E fazerem grandes “flchss”.

E depois há a velhinha
Que não para de tremer.
E eles esperam que ela morra
Já que é ela que tem grana.
E nem escutam o que essas
Pobres mãos têm pra contar.

Devo dizer-lhe meu senhor,
Que com aquela gente lá
Não se conversa meu senhor.

Não se conversa...
... Calcula-se.

E depois, e depois...

E depois há Frida
Que é bela como o sol,
E que me ama tanto
Quanto eu a amo, Frida!

Até mesmo nos dizemos
Que teremos uma casa
Com muitas janelas,
Com quase nenhuma parede.
E viveremos nela,
E será bom estar lá.

E se isso não é uma certeza,
Ao menos, é uma possibilidade,
Porque os outros não querem.
Porque os outros não querem.

Os outros, eles dizem algo como;
Que ela é bela demais para mim,
Que eu só sirvo pra matar gatos...
Eu nunca matei um gato!

Ou tenha sido há muito tempo...
Ou eu tenha esquecido...
Ou eles já não se sentiam bem...
Enfim, eles não querem.

Às vezes, quando nos vemos,
Fingindo não ser de propósito,
Com os olhos molhados,
Ela diz que irá embora,
Ela diz que me seguirá.

Então, por um instante,
Por um instante apenas meu senhor,
Por um instante apenas
Eu acredito nela.
Por um instante apenas meu senhor.
Porque daquela gente lá,
Meu senhor
Não se escapa.
Não se escapa meu senhor...
Não se escapa...,
Mas é tarde, meu senhor...
Eu preciso voltar
Para minha casa...

Jacques Brel

Tradução: TaneiGiaccvaoc 

Nenhum comentário:

Postar um comentário