Agora
que as pupilas já tocadas
de
pecado – que por quererem dela
a exata
imagem, antes que a bela,
a
terrível, que nisto o puro existe,
viram na
fonte as águas desvendadas
não se
impelirem mais que a um sono triste –
o que
fora magia são corolas,
da
presença da morte alucinadas
– agora,
fera, em que mais te consolas?
De que
disfarce íntimo se vale
a pedra
contra ti? (nada resiste
à limpidez
dos olhos sem amor).
Calaste
o mundo e o mundo, sem que fale,
não te
dará do tempo a flor da flor.
Caminhas
entre o céu e o vale. E o vale
onde
todo crescer obscuro e assomo
é cego
caminhar às abstratas formas
da morte
– ó formas exatas
e
invioláveis! – fulgor que espera o pomo!
o vale é
vale só e te dispensa.
Horizonte
solidão, te desconhece
e anula.
Estás só, homem sem gnomo!
que o
resto é céu recurvo e diferença.
As
sucessivas túnicas do dia
despiu,
como se em pranto se negasse,
e em
derredor de si rompera espelhos
deslizantes
de som e cor, oh melodia
caindo
sobre as flores nos vermelhos
e
trágicos jardins! Mas eis que a face
da que
diurna quer ser sendo noturna,
pela
pureza própria corrompida,
se ergue
inodora e vã – já morta nasce:
a beleza
é mais frágil do que a vida.
Esperamos
a morte sem defesa.
Lúcida
espera, enquanto na diurna
cintilação,
te esvais, cristal, estende-
se em
silêncio e veludo, e se propaga
o musgo
pelos muros da tristeza.
Curvam-se
sobre nós astros e ramos
que
esplendem. Soluçamos no que esplende:
o fruto,
a rosa, a brisa que te apaga,
as
árvores da música. Esperamos.
Talhados
por mim mesmo no ante-sono
de mim,
do barro erguera-me, escultura.
A luz de
antes de ser dourava as formas
ignoradas
de si, madurecia-as.
Até que
enfim me soube ser o nono
Orfeu,
boca madura, para as cousas
chamar
pelo seu nome. Entanto, impura
boca, arvora
lúcida, hoje não ousas
florir
com tua voz as formas frias.
Adão, Adão,
violaste a fonte pura.
Éden não
houve, à margem do Pison
meditas.
Estás só. Nada te esquece
que
águas e nuvens passam. E a esse som,
teu
coração – fruto último – emurchece.
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