domingo, 22 de abril de 2012
sábado, 21 de abril de 2012
sexta-feira, 20 de abril de 2012
sábado, 14 de abril de 2012
quarta-feira, 11 de abril de 2012
Vida Nova - Dante Alighieri
Vita Vuova - I
Em cada
alma gentil, presa de ardor,
Que
tomar ciência do dizer presente,
P’ra que
me escrava parecer urgente,
Saúdo o
seu senhor, isto é amor.
Eram
três horas e um fatal fulgor
Havia em
cada estrela resplendente,
Quando
surgiu Amor subitamente,
Cuja essência
lembrar me dá horror.
Alegre
Amor me parecia, tendo
Meu
coração; e nos seus braços ia,
Envolta,
minha amada adormecendo.
Quando a
acordou, do coração ardendo,
Medrosa,
humildemente ela comia;
E ele
chorava, desaparecendo.
Dante Alighieri
Vide Cor Meum
Vide Cor Meum Veja meu coração
E pensando di lei E pensando nela
Mi sopragiunse uno soave sonno Um doce sono
me domina
Ego dominus tuus Eu sou seu Mestre
Vide
cor tuum Veja seu coração
E d’esto core ardendo E este coração
flamejante
Cor tuum É o seu coração
Lei paventosa Ela treme
Umilmente pascea Obedientemente
come
Appresso
gir Io ne vedea piangento Em prantos, vejo-o e renuncio a ele
La letizia si convertia A alegrigria
é cervertida
In amaríssimo pianto Nas mais
dolorosas lágrimas
Io sono in pace Eu estou em
paz
Cor meum Meu coração
Io sono in pace Eu estou em
paz
Vide cor meum Veja meu
coração
Patrick Cassidy
sábado, 7 de abril de 2012
Frida et moi et ces gens-là, Monsieur
Pra começar,
há o mais velho.
Ele, que é
como um melão,
Que tem um
grande nariz,
Que nem
sabe mais o próprio nome, meu senhor...
De tanto
que bebe,
Ou de tanto
que já bebeu...
Que não faz
nada com seus dez dedos.
Que nem
consegue mais.
Ele, que
está completamente cozido,
E que se acha
um rei.
Que se
embebeda toda noite
Com vinho
ruim
E que é
encontrado de manhã
Na igreja,
cochilando,
Duro como
uma ereção,
Pálido como
um círio pascal.
E que
depois gagueja,
Que tem um
olho que divaga.
Devo
dizer-lhe meu senhor
Que com
aquela gente lá
Não se pensa
meu senhor.
Não se
pensa...
... Reza-se.
E depois há
outro
Com cenouras
em seu cabelo,
Que nunca
viu um pente,
Que é
perverso como uma micose,
Mesmo que
doasse sua camisa aos pobres.
Que é
casado com a Denise,
Uma garota
da cidade.
Enfim, d’outra
cidade.
E não é só
isso.
Que faz
seus pequenos negócios
Com seu
chapeuzinho,
Com seu
casaquinho,
Com seu
carrinho.
Que tenta
passar uma boa impressão
Mas não
impressiona ninguém.
Não se deve
pagar de rico
Quando não
se tem dinheiro.
Devo
dizer-lhe meu senhor,
Que com
aquela gente lá
Não se vive
meu senhor.
Não se
vive...
... Trapaceia-se.
E depois há
os outros.
A mãe, que
não diz nada...
Ou, bem,
nada de importante,
E vai da
noite à manhã,
Com sua
bela cara de santa.
E no quadro
de madeira
Há o bigode
do pai,
Morto em um
escorregão.
E que
observa seu rebanho
Comer a sopa
fria
E fazerem
grandes “flchss”,
E fazerem
grandes “flchss”.
E depois há
a velhinha
Que não
para de tremer.
E eles
esperam que ela morra
Já que é
ela que tem grana.
E nem
escutam o que essas
Pobres mãos
têm pra contar.
Devo
dizer-lhe meu senhor,
Que com
aquela gente lá
Não se
conversa meu senhor.
Não se
conversa...
... Calcula-se.
E depois, e
depois...
E depois há
Frida
Que é bela
como o sol,
E que me
ama tanto
Quanto eu a
amo, Frida!
Até mesmo
nos dizemos
Que teremos
uma casa
Com muitas
janelas,
Com quase
nenhuma parede.
E viveremos
nela,
E será bom
estar lá.
E se isso
não é uma certeza,
Ao menos, é
uma possibilidade,
Porque os
outros não querem.
Porque os
outros não querem.
Os outros,
eles dizem algo como;
Que ela é
bela demais para mim,
Que eu só
sirvo pra matar gatos...
Eu nunca
matei um gato!
Ou tenha
sido há muito tempo...
Ou eu tenha
esquecido...
Ou eles já não
se sentiam bem...
Enfim, eles
não querem.
Às vezes,
quando nos vemos,
Fingindo não
ser de propósito,
Com os
olhos molhados,
Ela diz que
irá embora,
Ela diz que
me seguirá.
Então, por
um instante,
Por um
instante apenas meu senhor,
Por um instante
apenas
Eu acredito
nela.
Por um
instante apenas meu senhor.
Porque
daquela gente lá,
Meu senhor
Não se
escapa.
Não se escapa
meu senhor...
Não se
escapa...,
Mas é
tarde, meu senhor...
Eu preciso
voltar
Para minha
casa...
Jacques Brel
Tradução: TaneiGiaccvaoc
j'ai chanté de chansons
La Fanette
Nós éramos
dois amigos,
E Fanette
me amava...
A praia
estava deserta e dormindo em Julho
Se fossem
capazes de lembrar,
Certamente que
as ondas diriam
Quantas vezes
por Fanette
Eu cantei.
Diriam,
Diriam que
ela era bela como
Uma pérola
d’água
Diriam que
ela era bela
E eu não
Diriam,
Diriam que
ela era morena
Como a duna
era loira
E tendo uma
a outra
Eu, eu
teria o mundo...
Diriam,
Diriam que
eu era um louco
Em acreditar
naquilo
Que era
tudo nosso, que ela era toda minha.
Diriam
Que não se
aprende
A desconfiar
de tudo!...
Nós éramos
dois amigos
E Fanette
me amava
A praia
deserta mentia em Julho
Se fossem capazes
de lembrar,
Certamente que
as ondas diriam
Como para
Fanette
Demoravam-se
as canções...
Diriam,
Diriam que
ao sair de uma onda lânguida
Os vi se
afastar como dois amantes
Diriam,
Que eles
riram que me viram chorar
E cantavam
quando eu os amaldiçoava
Diriam,
Que nadaram
tão bem e tão longe
Que nunca
mais os vi...
Diriam
Que não se
aprende...
Mas... Falemos
de outra coisa!...
Nós éramos
dois amigos
E Fanette o
amava
O lugar
está deserto e chora em Julho
E algumas
vezes ao anoitecer
Quando as
ondas se acalmam
Eu escuto
uma voz:
É a
Fanette...
Jacques Brel
Tradução:
Renato Menezes
sexta-feira, 6 de abril de 2012
Vir lutum
Agora
que as pupilas já tocadas
de
pecado – que por quererem dela
a exata
imagem, antes que a bela,
a
terrível, que nisto o puro existe,
viram na
fonte as águas desvendadas
não se
impelirem mais que a um sono triste –
o que
fora magia são corolas,
da
presença da morte alucinadas
– agora,
fera, em que mais te consolas?
De que
disfarce íntimo se vale
a pedra
contra ti? (nada resiste
à limpidez
dos olhos sem amor).
Calaste
o mundo e o mundo, sem que fale,
não te
dará do tempo a flor da flor.
Caminhas
entre o céu e o vale. E o vale
onde
todo crescer obscuro e assomo
é cego
caminhar às abstratas formas
da morte
– ó formas exatas
e
invioláveis! – fulgor que espera o pomo!
o vale é
vale só e te dispensa.
Horizonte
solidão, te desconhece
e anula.
Estás só, homem sem gnomo!
que o
resto é céu recurvo e diferença.
As
sucessivas túnicas do dia
despiu,
como se em pranto se negasse,
e em
derredor de si rompera espelhos
deslizantes
de som e cor, oh melodia
caindo
sobre as flores nos vermelhos
e
trágicos jardins! Mas eis que a face
da que
diurna quer ser sendo noturna,
pela
pureza própria corrompida,
se ergue
inodora e vã – já morta nasce:
a beleza
é mais frágil do que a vida.
Esperamos
a morte sem defesa.
Lúcida
espera, enquanto na diurna
cintilação,
te esvais, cristal, estende-
se em
silêncio e veludo, e se propaga
o musgo
pelos muros da tristeza.
Curvam-se
sobre nós astros e ramos
que
esplendem. Soluçamos no que esplende:
o fruto,
a rosa, a brisa que te apaga,
as
árvores da música. Esperamos.
Talhados
por mim mesmo no ante-sono
de mim,
do barro erguera-me, escultura.
A luz de
antes de ser dourava as formas
ignoradas
de si, madurecia-as.
Até que
enfim me soube ser o nono
Orfeu,
boca madura, para as cousas
chamar
pelo seu nome. Entanto, impura
boca, arvora
lúcida, hoje não ousas
florir
com tua voz as formas frias.
Adão, Adão,
violaste a fonte pura.
Éden não
houve, à margem do Pison
meditas.
Estás só. Nada te esquece
que
águas e nuvens passam. E a esse som,
teu
coração – fruto último – emurchece.
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